Nota biográfica
Octávio Lixa Filgueiras nasceu na freguesia da Foz do Douro (Porto), a 16 de Agosto de 1922. Em 1940 termina o Curso Geral dos Liceus no Liceu de Alexandre Herculano. Depois de frequentar o 1º ano dos estudos preparatórios de Engenharia, na Faculdade de Ciências do Porto, ingressou em Arquitetura no ano de 1942, na Escola Superior de Belas-Artes do Porto (ESBAP), tendo concluído o curso em 1954 com a classificação de 20 valores e apresentado a tese “Urbanismo – um tema rural”, o primeiro trabalho teórico-prático da instituição, onde viria a lecionar a partir de 1962.
Entre 1955 e 1957 chefiou a equipa da Zona II (Trás-os-Montes/Alto Douro) do importante “Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal”. Foi vogal da 4ª Subsecção da 2ª Secção da Junta Nacional da Educação (Património Arquitectónico/Urbanístico) entre 1967 e 1977, membro da Comissão de Intercâmbio do Instituto de Alta Cultura (1970-73), Inspector Superior das Belas-Artes e da Comissão Nacional do Ano Europeu do Património Arquitectónico (1973-76) e coordenador, por parte da Junta Nacional de Educação, do Processo «Cidade Romana de Braga» (1976) e do inquérito «Imóveis do Património a Recuperar».
Entre 1978 e 1981 integrou o Gabinete do Secretário de Estado da Cultura, chefiado pelo escritor David Mourão-Ferreira, ficando incumbido de apoiar a formação da futura Delegação Regional do Norte. Em 1981 é destacado para o Centro de História da Universidade do Porto onde permanece até 1985, data em que é criada a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, para onde é transferido como Professor Catedrático, a seu requerimento. Nesta instituição começa por dirigir um seminário de finalistas dedicado à Proteção do Património Arquitetónico. Entre 1985-1993 exerce funções de membro do Conselho Consultivo do Instituto Português do Património Cultural.
Nos domínios da Etnologia e Arqueologia naval desenvolveu, entre outras, as seguintes atividades: bolseiro do Instituto de Alta Cultura pelo Centro de Estudos de Etnologia Peninsular; autor de um exaustivo inquérito às embarcações tradicionais portuguesas, uma das suas principais obras, nunca inteiramente publicada; consultor do Museu da Marinha e membro fundador do Grupo de Estudos de História Marítima do mesmo Museu (1964). Em 1970 transitou para o Centro de Estudos da Marinha e em 1978 para a Academia de Marinha. Fez parte do Grupo de Trabalho para a Defesa do Património Arqueológico Subaquático (1976-84) e da Comissão de Estudos de Aproveitamento do Leito do Mar, adstrita ao Gabinete do Chefe do Estado-Maior da Armada.
Na condição de investigador e de membro fundador, participou em todos os International Symposia on Boat & Ship Archaeology, tendo organizado o 4º Simpósio, em 1985, dedicado ao tema “Local Boats”, o qual incluiu conferências nas cidades do Porto, Aveiro e Lisboa.
O Professor Arquiteto Octávio Lixa Filgueiras foi mentor da Arqueologia subaquática em Portugal ao longo de mais de três décadas, destacando-se o seu contributo nesta área enquanto delegado português na reunião do Conselho de Ministros da Comunidade Económica Europeia sobre a defesa do Património Cultural Subaquático (Paris, 1979) e no Grupo de Trabalho de redação da respetiva Convenção Europeia (Estrasburgo, 1980-85). Nesta área de investigação, foi ainda membro do Hellenic Institute of Marine Archaeology e membro fundador da associação cultural Arqueonáutica, onde colaborou na redação do Livro Branco – Arqueologia ou Caça ao Tesouro? para o debate sobre o património arqueológico subaquático em Portugal. Esta dinâmica viria a contribuir para a revogação da legislação dos anos 90 do século XX, a qual favorecia a exploração comercial do património cultural subaquático.
O espólio que deixou é, seguramente, o mais relevante arquivo pessoal existente em Portugal na área abrangente da cultura marítima, que vem despertando um renovado interesse.