O Fundo Especial Octávio Lixa Filgueiras foi criado através da incorporação, por doação da família, do espólio documental do Prof. Arquiteto Octávio Lixa Filgueiras.
A integração deste espólio constituiu um ato de extrema importância para que o Museu Marítimo de Ílhavo (MMI) fortalecesse as principais vertentes do seu programa museológico e reforçasse as relações com a comunidade científica e com museus marítimos nacionais e europeus.
Pelo estudo, salvaguarda e conservação de patrimónios marítimos, o MMI tem consolidado o seu papel de casa da cultura do mar. O Fundo Especial Octávio Lixa Filgueiras representa um singular meio de partilha dessa função social do Museu, através do aprofundamento das múltiplas abordagens que nele se revelam.
Composto por cerca de 6 mil títulos bibliográficos, centenas de manuscritos e dezenas de planos e fotografias de embarcações tradicionais, o Fundo Especial Octávio Lixa Filgueiras encontra-se depositado no DocMar, em ambas as vertentes arquivística e bibliotecária, ao dispor de todos os interessados que pretendam desenvolver projetos de investigação nas seguintes áreas científico-culturais:
- História Marítima;
- Arquitetura naval portuguesa tradicional;
- Arqueologia Subaquática;
- Patrimónios Marítimos e Museologia;
- Etnografia náutica portuguesa;
- Antropologia marítima e culturas marítimas;
Divulgar a obra ímpar do Professor Arquiteto Octávio Lixa Filgueiras – uma personalidade empenhada na defesa do património cultural marítimo – e contribuir para o desenvolvimento do seu legado científico constituem os desafios que o MMI tem vindo a realizar, contribuindo para promover o conhecimento do património náutico português.
Nota biográfica
Octávio Lixa Filgueiras nasceu na freguesia da Foz do Douro (Porto), a 16 de Agosto de 1922. Em 1940 termina o Curso Geral dos Liceus no Liceu de Alexandre Herculano. Depois de frequentar o 1º ano dos estudos preparatórios de Engenharia, na Faculdade de Ciências do Porto, ingressou em Arquitetura no ano de 1942, na Escola Superior de Belas-Artes do Porto (ESBAP), tendo concluído o curso em 1954 com a classificação de 20 valores e apresentado a tese “Urbanismo – um tema rural”, o primeiro trabalho teórico-prático da instituição, onde viria a lecionar a partir de 1962.
Entre 1955 e 1957 chefiou a equipa da Zona II (Trás-os-Montes/Alto Douro) do importante “Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal”. Foi vogal da 4ª Subsecção da 2ª Secção da Junta Nacional da Educação (Património Arquitectónico/Urbanístico) entre 1967 e 1977, membro da Comissão de Intercâmbio do Instituto de Alta Cultura (1970-73), Inspector Superior das Belas-Artes e da Comissão Nacional do Ano Europeu do Património Arquitectónico (1973-76) e coordenador, por parte da Junta Nacional de Educação, do Processo «Cidade Romana de Braga» (1976) e do inquérito «Imóveis do Património a Recuperar».
Entre 1978 e 1981 integrou o Gabinete do Secretário de Estado da Cultura, chefiado pelo escritor David Mourão-Ferreira, ficando incumbido de apoiar a formação da futura Delegação Regional do Norte. Em 1981 é destacado para o Centro de História da Universidade do Porto onde permanece até 1985, data em que é criada a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, para onde é transferido como Professor Catedrático, a seu requerimento. Nesta instituição começa por dirigir um seminário de finalistas dedicado à Proteção do Património Arquitetónico. Entre 1985-1993 exerce funções de membro do Conselho Consultivo do Instituto Português do Património Cultural.
Nos domínios da Etnologia e Arqueologia naval desenvolveu, entre outras, as seguintes atividades: bolseiro do Instituto de Alta Cultura pelo Centro de Estudos de Etnologia Peninsular; autor de um exaustivo inquérito às embarcações tradicionais portuguesas, uma das suas principais obras, nunca inteiramente publicada; consultor do Museu da Marinha e membro fundador do Grupo de Estudos de História Marítima do mesmo Museu (1964). Em 1970 transitou para o Centro de Estudos da Marinha e em 1978 para a Academia de Marinha. Fez parte do Grupo de Trabalho para a Defesa do Património Arqueológico Subaquático (1976-84) e da Comissão de Estudos de Aproveitamento do Leito do Mar, adstrita ao Gabinete do Chefe do Estado-Maior da Armada.
Na condição de investigador e de membro fundador, participou em todos os International Symposia on Boat & Ship Archaeology, tendo organizado o 4º Simpósio, em 1985, dedicado ao tema “Local Boats”, o qual incluiu conferências nas cidades do Porto, Aveiro e Lisboa.
O Professor Arquiteto Octávio Lixa Filgueiras foi mentor da Arqueologia subaquática em Portugal ao longo de mais de três décadas, destacando-se o seu contributo nesta área enquanto delegado português na reunião do Conselho de Ministros da Comunidade Económica Europeia sobre a defesa do Património Cultural Subaquático (Paris, 1979) e no Grupo de Trabalho de redação da respetiva Convenção Europeia (Estrasburgo, 1980-85). Nesta área de investigação, foi ainda membro do Hellenic Institute of Marine Archaeology e membro fundador da associação cultural Arqueonáutica, onde colaborou na redação do Livro Branco – Arqueologia ou Caça ao Tesouro? para o debate sobre o património arqueológico subaquático em Portugal. Esta dinâmica viria a contribuir para a revogação da legislação dos anos 90 do século XX, a qual favorecia a exploração comercial do património cultural subaquático.
O espólio que deixou é, seguramente, o mais relevante arquivo pessoal existente em Portugal na área abrangente da cultura marítima, que vem despertando um renovado interesse.
Obras selecionadas do Fundo Especial Octávio Lixa Filgueiras
Normas de acesso ao Fundo Especial Octávio Lixa Filgueiras
O catálogo completo das publicações pode ser consultado aqui.
Para uma pesquisa mais avançada, clique aqui (instruções: em Secções selecione a opção Octávio Lixa Filgueiras antes de qualquer pesquisa)
A consulta de documentação de arquivo poderá ser feita, com autorização prévia da direção do MMI, devendo os respetivos pedidos serem enviados para:
ciemar.mmi@cm-ilhavo.pt ou ciemar.doc@cm-ilhavo.pt
Barcos de Portugal - obras selecionadas de Octávio Lixa Filgueiras
A edição digital de uma coletânea de textos de Octávio Lixa Filgueiras constitui seguramente uma bela notícia para todos os cultores da arte naval. Na sua fecunda introdução a este livro, o Professor Eric Rieth, companheiro de estudos e de escrita de Lixa Filgueiras, honra a obra do Professor Arquiteto colocando em relevo a dimensão antropológica das suas investigações, o seu rigor e obstinação de descoberta das raízes geoculturais do “objeto total” das culturas marítimas: o barco.
Ao produzir e disponibilizar, de forma livre, esta edição digital de sete textos de Octávio Lixa Filgueiras, publicações há muito esgotadas fisicamente e muito procuradas por inúmeros investigadores e amantes do património marítimo, o MMI reafirma a sua missão de entidade pública municipal dedicada à investigação e preservação dos patrimónios marítimos.
Textos:
- A Arte de Construção no Estudo das Tradições Navais, 1958
- Barcos, 1963
- Construções Navais Portuguesas, 1965
- No Crepúsculo das Embarcações Tradicionais,1970
- Barcos de Pesca de Portugal, 1981
- Navegação à Vela, Barcos à vela dos rios portugueses, 1982
- Le Portugal - Les Embarcations Traditionnelles, 1993
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