"Vamos regressar a Portugal!" No momento em que as tripulações ouviam, do seu capitão, estas palavras, uma onda de alegria atravessava o navio, da proa à popa, e os anseios dos longos meses de trabalho ficavam para trás. Nem sempre a viagem de regresso significava o fim das dificuldades e dos perigos.
O lugre ‘Primeiro Navegante’ ficou na memória de todos aqueles que a 24 de outubro de 1946 se deslocaram para verem a entrada do navio na barra de Aveiro, mas devido às condições climatéricas acabou por ser impelido para terra encalhando na praia da meia-laranja. Também o ‘Santo André’ vivenciou uma situação difícil, mas por sorte é que escapamos, assim recorda Carlos Reis, antigo tripulante do arrastão:
"Fizemos a pesca e correu tudo bem. Na altura estávamos no Flemish Cap quando arrancarmos para Portugal. Na viagem de regresso toda a gente estava contente: Eh pá! Vamos para Portugal! Nesse momento um tripulante gritou que o pico das correntes estava cheio de água. Ora, a proa estava partida, mas não se via grande coisa. Só percebemos o que se passava em viagem, quando o navio, com a ondulação, levantava a proa e saía água em esguicho como de uma baleia. A nossa sorte eram os tanques, senão ‘goodbye, adeus’. Só soubemos o verdadeiro estado do navio quando começámos a descarregá-lo e enquanto o navio subia constatávamos que o buraco era maior. De tal forma que até podia passar por lá uma baleeira. Ainda hoje se pode ver na proa do ‘Santo André’, aonde está rebitado é o antigo e aonde está soldado é o novo."
Fotografia do arrastão ‘Santo André’. Museu Marítimo/Câmara Municipal de Ílhavo
Arquivo Armando Morgado. (PT/CDILH/MMI/AJPFM/IMG/014)